29.5.09

nesta casa violada vivia uma velha,
teria vindo de fora.
um nome teria.
morava sem parentesco.
banho não
pente no cabelo não
dentes nenhum
mudar de roupa não
plano de saúde não
grana não
via a filha não
amigos os bichanos que alimentava.
caiu. veio o resgate.
no hospital da limpeza pública nem durou uma semana.
os olhos da filha chorarão seu remorso azul, se deus existir.
o genro torcerá o nariz dentro do covil.
a casa vai virar grana
por isso as janelas dormem abertas denunciando aos berros.

todo mundo se preocupa com os gatos.


sp - 23/12/05

4 comentários:

Luciano Marra disse...

Gostei desse poema, gosto quando o poeta emprega as coisas do cotidiano. Bom mesmo!

mauro sou disse...

Valeu, Luciano.
É verdade, a poesia tem que estar por aí mesmo e sem salto alto, claro. João Cabral disse que alguns poetas tinham a mania de 'poetizar' o poema, então eu tento seguir o conselho. Por outro lado, não me considero um poeta, teria que me dedicar mais...

Claudio Lorenzo disse...

fantastico ! da para ver a arquitectura da casa que virou grana, o andar da mulher alimentando os gatos .. antropologico, isso é são paulo, essas são nossas cidades!
parabens

mauro sou disse...

Obrigado, Claudio.
=]