4.7.09

poema garimpado num email de cíntia corrales

um dia eu estava nublado,
no outro, o dia estava com pressa,
no outro eu estava a cem. máquina.

mas a rosa segue seu caminho
perde pétalas ao tempo.


sp - 30 jan 2009

15.6.09

tenra

para lá daquela porta
a terra ainda está úmida.
um passo e o dia será macio

para lá daquela porta
porém, há o mundo.

aquém é mundo também.
garrafa térmica,
câmara hermética, se bem.

sp 15 jun 2009

29.5.09

nesta casa violada vivia uma velha,
teria vindo de fora.
um nome teria.
morava sem parentesco.
banho não
pente no cabelo não
dentes nenhum
mudar de roupa não
plano de saúde não
grana não
via a filha não
amigos os bichanos que alimentava.
caiu. veio o resgate.
no hospital da limpeza pública nem durou uma semana.
os olhos da filha chorarão seu remorso azul, se deus existir.
o genro torcerá o nariz dentro do covil.
a casa vai virar grana
por isso as janelas dormem abertas denunciando aos berros.

todo mundo se preocupa com os gatos.


sp - 23/12/05

Eduardo Jorge Canella e Cauê Mattos

Cauê Mattos, Joana Egypto e Isabela Umbuzeiro Valent

20.5.09

tuas formas, berço de heras,
dão-me o tempo medido em volutas.

nas tuas mãos em concha e feixe,
receptáculo, ninho das águas,
estrelas sonham desde o Início
a estranha lógica dos cardumes
e tudo que vai ao fundo,
semi-suspenso,
à areia decantada.


sp - 19/05/09

29.4.09

revejo, sim.
raja um vento e te revela.
o vento o que sabe?
sabe a cabelos; ser vento sabe,
coisas de si só sabe,
feito rio para si.
rio que mar regurgita.

vi e agora revejo que voltas.
do ângulo da pedra que o sal gasta
o arco da sombra velha mira.

dormirei aquela sombra onde o sol não cabe?

sp - 28/11/05

19.4.09

o olho brilha
rígido aço nos atinge
e ronca talvez de medo
o medo acorda seus medos

o olho avança abre engloba

sp - 19 abr 09

11.4.09

procure uma ilha
procure com os dentes
procure

entredentes goste

ocupe a ilha
ocupe seus cumes
ocupe

faça usucapião das marés

irmã enguia
irmã escarpa
irmã asa


sp - 7/8/2008

olhando pela janela.
algumas vezes posso ver a chama da refinaria de petróleo. longe. longe.

*

vindo de metrô para o trabalho reparei que esse é um movimento repetido exaustivamente, a ponto de perder o sentido.

**

quando eu era menino pensava em como seria o dia de minha morte. Era algo distante...
evito pensar nisso agora.

***

se as nuvens estão velozes, e é fim de tarde, umas estão mais iluminadas que outras. a vontade de chorar me salta dentro do estômago. nostalgia. infância súbita que fosse nascer vomitada.

23/set/08


foto: mai fujimoto

alegria: soprar o dente-de-leão.
alegria: observar o vôo das sementes mais leves que o ar.
alegria: imaginar um destino longínquo para o pouso.


26/set/08

p.s. - essa imagem e esse texto se conheceram tempos depois